Bárbara Fonseca (barbara@maturi.org.br) e Josefina L. Morandin (josefina@maturi.org.br)
INSPIRAÇÃO
O impulso contemporâneo de Emil Molt, vislumbrado a partir da catástrofe de 1918/1919 e que levou à fundação da primeira Escola Waldorf Livre, estava imbuído do pensamento de que “a formação humana precisava de uma nova abordagem”*. Podemos reconhecer como um dos primeiros sinais deste impulso, o reflexo da fala de Rudolf Steiner na alma dos funcionários da fábrica de cigarros Waldorf-Astória, retratado por Herbert Hahn da seguinte forma: “Rudolf Steiner desvendou os fundamentos mais profundos da situação emocional em que o proletariado se encontrava”, suas “palavras foram pronunciadas tão calidamente e a partir de uma compreensão tão profunda do ser humano que comoviam diretamente os corações dos ouvintes”.
Encontrar a linguagem do coração é uma tarefa árdua e substancial nos dias de hoje. “Não falamos corretamente da alma quando não mostramos como esta se realiza entre simpatia e antipatia”**. Focar no conhecimento permeado pela vontade e emoção, baseado no real conhecimento do mundo dos fatos é premissa para a arte da educação**. Neste sentido, a comunicação não violenta (CNV) se conecta à essência da pedagogia Waldorf, uma vez que atua a partir do reconhecimento do ser humano em sua dimensão anímica e se concretiza à medida que se torna caminho de desenvolvimento para a compaixão, fomentando-se a cultura de paz. “Quando utilizamos a CNV para ouvir nossas necessidades mais profundas e as dos outros, percebemos os relacionamentos por um novo enfoque.” ***
O que isto tem haver com o Currículo Social? Se considerarmos a realidade que convivemos diariamente, seja internamente na escola ou além de suas fronteiras logo verificaremos inúmeras situações conflituosas ou violentas, que nos fazem sentir impotentes ou descontentes. Em que medida estas situações são sinais que apontam para a mesma necessidade que impulsionou Emil Molt – a concretização de uma verdadeira pedagogia do povo ou educação popular? Um próximo passo precisa ser dado a fim de transformar “o mal em bem”, aí se encontra a “missão social da antroposofia e da pedagogia Waldorf” (Ute Cramer). Assim, a questão social em seus diferentes aspectos (desigualdade social, jurídico-política, multiculturalismo etc.) vive entre nós sem fronteiras e requer consciência para a construção de relações sustentáveis. Do ponto de vista curricular, pode se ter como desafio criar pontes entre as fases de desenvolvimento do aluno e a realização de experiências diversas que propiciem a ampliação da visão de mundo, entrando em contato com diferentes realidades socioambientais. Como consequência deste exercício poderia se observar, por exemplo, o fortalecimento da vontade do aluno de se engajar em iniciativas que promovam a transformação da realidade socioambiental, redimindo ou integrando aquilo que se apresenta isolado. De outro ponto de vista, o exercício da comunicação não violenta (CNV) na prática escolar (seja interna ou externa), vem potencializar um diálogo saudável entre os diferentes sujeitos, sejam colegas da escola (professor ou funcionário da limpeza, alunos), pais/mães, comunidades de interação, propiciando encontros verdadeiros onde prevalece o respeito à dignidade humana.
Tendo em vista esta abordagem a oficina “Currículo Social: a contribuição da CNV para a pedagogia Waldorf” tem como objetivo criar condições para que na prática possamos experienciar com consciência a linguagem do coração.
O PROCESSO DA CNV
Para chegar ao mútuo desejo de nos entregarmos de coração, concentramos a luz da consciência em quatro áreas, às quais nos referimos como os quatro componentes do modelo da CNV. Os quatros componentes da CNV: Observação; Sentimento; Necessidades; Pedido.
Primeiramente, observamos o que está de fato acontecendo numa situação: o que estamos vendo os outros dizerem ou fazerem que é enriquecedor ou não para nossa vida? O truque é ser capaz de articular essa observação sem fazer nenhum julgamento ou avaliação – mas simplesmente dizer o que nos agrada ou não naquilo que as pessoas estão fazendo. Em seguida, identificamos como nos sentimos ao observar aquela ação: magoados, assustados, alegres, divertidos, irritados, etc. Em terceiro lugar, reconhecemos quais de nossas necessidades estão ligadas aos sentimentos que identificamos aí e por último que pedido podemos fazer para enriquecer nossa vida. Assim, parte da CNV consiste em expressar as quatro informações muito claramente, seja de forma verbal, seja por outros meios. O outro aspecto dessa forma de comunicação consiste em receber aquelas mesmas quatro informações dos outros. Nós nos ligamos a eles primeiramente percebendo o que estão observando e sentindo e do que estão precisando; e depois descobrindo o que poderia enriquecer suas vidas ao receberem a quarta informação, o pedido.
À medida que mantivemos nossa atenção concentrada nessas áreas e ajudarmos os outros a fazerem o mesmo, estabeleceremos um fluxo de comunicação dos dois lados, até a compaixão se manifestar naturalmente: o que estou observando, sentindo e do que estou necessitando; o que estou pedindo para enriquecer minha vida; o que você está observando, sentindo e do que está necessitando; o que você está pedindo para enriquecer sua vida...
Ao usarmos esse processo, podemos começar nos expressando ou então recebendo com empatia essas quatro informações dos outros. É importante ter em mente que a CNV não consiste numa fórmula preestabelecida; antes, ela se adapta a várias situações e estilos pessoais e culturais. É possível realizar todas as quatro partes do processo sem pronunciar uma só palavra. A essência da CNV está em nossa consciência daqueles quatro componentes, não nas palavras que efetivamente são trocadas.
* Herbert Hahn, O Nascimento da Escola Waldorf a partir dos impulsos da Trimembração do Organismo Social. in A Vocação Social da Pedagogia Waldorf – da consciência à realização.
** Nona Conferencia in A Arte da Educação I, Rudolf Steiner.
*** Comunicação Não Violenta, MARSHALL B. ROSENBERG
O que isto tem haver com o Currículo Social? Se considerarmos a realidade que convivemos diariamente, seja internamente na escola ou além de suas fronteiras logo verificaremos inúmeras situações conflituosas ou violentas, que nos fazem sentir impotentes ou descontentes. Em que medida estas situações são sinais que apontam para a mesma necessidade que impulsionou Emil Molt – a concretização de uma verdadeira pedagogia do povo ou educação popular? Um próximo passo precisa ser dado a fim de transformar “o mal em bem”, aí se encontra a “missão social da antroposofia e da pedagogia Waldorf” (Ute Cramer). Assim, a questão social em seus diferentes aspectos (desigualdade social, jurídico-política, multiculturalismo etc.) vive entre nós sem fronteiras e requer consciência para a construção de relações sustentáveis. Do ponto de vista curricular, pode se ter como desafio criar pontes entre as fases de desenvolvimento do aluno e a realização de experiências diversas que propiciem a ampliação da visão de mundo, entrando em contato com diferentes realidades socioambientais. Como consequência deste exercício poderia se observar, por exemplo, o fortalecimento da vontade do aluno de se engajar em iniciativas que promovam a transformação da realidade socioambiental, redimindo ou integrando aquilo que se apresenta isolado. De outro ponto de vista, o exercício da comunicação não violenta (CNV) na prática escolar (seja interna ou externa), vem potencializar um diálogo saudável entre os diferentes sujeitos, sejam colegas da escola (professor ou funcionário da limpeza, alunos), pais/mães, comunidades de interação, propiciando encontros verdadeiros onde prevalece o respeito à dignidade humana.
Tendo em vista esta abordagem a oficina “Currículo Social: a contribuição da CNV para a pedagogia Waldorf” tem como objetivo criar condições para que na prática possamos experienciar com consciência a linguagem do coração.
O PROCESSO DA CNV
Para chegar ao mútuo desejo de nos entregarmos de coração, concentramos a luz da consciência em quatro áreas, às quais nos referimos como os quatro componentes do modelo da CNV. Os quatros componentes da CNV: Observação; Sentimento; Necessidades; Pedido.
Primeiramente, observamos o que está de fato acontecendo numa situação: o que estamos vendo os outros dizerem ou fazerem que é enriquecedor ou não para nossa vida? O truque é ser capaz de articular essa observação sem fazer nenhum julgamento ou avaliação – mas simplesmente dizer o que nos agrada ou não naquilo que as pessoas estão fazendo. Em seguida, identificamos como nos sentimos ao observar aquela ação: magoados, assustados, alegres, divertidos, irritados, etc. Em terceiro lugar, reconhecemos quais de nossas necessidades estão ligadas aos sentimentos que identificamos aí e por último que pedido podemos fazer para enriquecer nossa vida. Assim, parte da CNV consiste em expressar as quatro informações muito claramente, seja de forma verbal, seja por outros meios. O outro aspecto dessa forma de comunicação consiste em receber aquelas mesmas quatro informações dos outros. Nós nos ligamos a eles primeiramente percebendo o que estão observando e sentindo e do que estão precisando; e depois descobrindo o que poderia enriquecer suas vidas ao receberem a quarta informação, o pedido.
À medida que mantivemos nossa atenção concentrada nessas áreas e ajudarmos os outros a fazerem o mesmo, estabeleceremos um fluxo de comunicação dos dois lados, até a compaixão se manifestar naturalmente: o que estou observando, sentindo e do que estou necessitando; o que estou pedindo para enriquecer minha vida; o que você está observando, sentindo e do que está necessitando; o que você está pedindo para enriquecer sua vida...
Ao usarmos esse processo, podemos começar nos expressando ou então recebendo com empatia essas quatro informações dos outros. É importante ter em mente que a CNV não consiste numa fórmula preestabelecida; antes, ela se adapta a várias situações e estilos pessoais e culturais. É possível realizar todas as quatro partes do processo sem pronunciar uma só palavra. A essência da CNV está em nossa consciência daqueles quatro componentes, não nas palavras que efetivamente são trocadas.
* Herbert Hahn, O Nascimento da Escola Waldorf a partir dos impulsos da Trimembração do Organismo Social. in A Vocação Social da Pedagogia Waldorf – da consciência à realização.
** Nona Conferencia in A Arte da Educação I, Rudolf Steiner.
*** Comunicação Não Violenta, MARSHALL B. ROSENBERG
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