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Cantinho literário



PRECONCEITO


Ele andava torto, era vesgo, andava mal vestido, e acima de tudo, achava que era digno e sorria para todos. Seu nome era Ricardo. Toda segunda e quarta passava em frente à escola, com sua charrete de papelão, e cumprimentava a todos com um gesto de cabeça. Sério, aquele cara me dava nos nervos! Quem ele pensava que era?

Um dia não aguentei mais. Estávamos no horário do recreio e não me contive: xinguei o cara. Ele pareceu não me ouvir, ou me ignorou, como achei que faria. Não passou uma semana e estava eu lá, no ponto de ônibus, com meu pé quebrado, pois chutara torto a bola. Não fora nada de grave, mas o gesso não permitia que eu conseguisse andar. Era quarta-feira; bem no horário que o Ricardo passava com a sua charrete. Fiquei meio nervoso, dentro das grades da escola. Eu era superior, me sentia forte. Mas ao ver a charrete se aproximar naquela tarde, senti que levaria uma "dura" do cara, e fiquei de cabeça baixa, implorando que o ônibus passasse antes do Ricardo. Mas não deu em nada. A charrete já estava passando na minha frente, e eu, esperando a revolta de xingamentos. Mas ela não veio.

Ricardo parou em frente ao ponto de ônibus, desceu da carroça e perguntou onde era a minha casa para que ele me levasse, pois meu pé estava machucado e eu não iria conseguir subir no ônibus com facilidade. Fiquei pasmo, e sem palavras. Ele, com as pernas tortas, me ajudou a subir na charrete e foi conversando comigo a viagem toda, como se fossemos velhos amigos. Ao chegarmos na porta de casa, eu não sabia o que dizer. Fiquei um tempo meditando mas não me contive, tive que falar o que estava dentro de mim naquele momento:
- Ricardo, você é o cara mais lindo que eu já vi.

(Lia Signorelli, 9º ano de 2012)

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